sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O silêncio




O pior tipo de relacionamento que podemos praticar com as pessoas com quem trabalhamos e vivemos é o do silêncio. O silêncio fala por si só. Todas as coisas que prestamos atenção tendem a crescer. Se olharmos, tão somente os aspectos negativos de alguém, esses tendem a crescer aos nossos olhos. O grande desafio está no agir, no fazer, no praticar aquilo que se diz ou pensa como sendo o certo, o correto nas relações entre as pessoas. Não valemos pelo que pensamos, mas sim pelo que realmente fazemos. Por outro lado, você é reflexo dos seu pensamentos. Seja imensamente feliz e mude seus pensamentos, palavras e ações. O universo é grandioso.

"A vida é completa,
É um grande drama.
O que você estuda,
Seu sofrimento,
Suas realizações,
Os momentos de plenitude e
Até mesmo os fracassos.
Nada,
Absolutamente nada,
É em vão!"
Dr. Daisaku Ikeda

#nmrk #devaneios #positivelife #lucidez #maismaduro #maturidade

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Gonna rise up

Gonna rise up turning mistakes into gold.
Such is the passage of time too fast to fold and suddenly swallowed by signs low and behold.
Gonna rise up find my direction magnetically.
Throw down my ace in the hole.

I think I'm in love.

segunda-feira, 21 de julho de 2014


A vida é completa,
É um grande drama.
O que você estuda,
Seu sofrimento,
Suas realizações,
Os momentos de plenitude e
Até mesmo os fracassos.
Nada,
Absolutamente nada,
É em vão!
Dr. Daisaku Ikeda

As oportunidades não esperam, elas surgem nos momentos mais inesperados e precisamos estar preparados.


quinta-feira, 13 de junho de 2013

resiliência


TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

sexta-feira, 6 de março de 2009

A procura de..



Todos nós corremos atrás de felicidade. Todos estamos a procura de...
Assim passam os dias, as semanas, os anos, grande parte de nossa vida, e nem nos damos conta de que o tempo se foi.
Quando nos flagramos, nos assustamos com a fugacidade do tempo, que escapou entre as mãos como a areia do mar.
E aí vem a grande pergunta: onde é que eu gastei o meu tempo?
Preferi tantas vezes os meus próprios caminhos, construí meus próprios ídolos..
Procurei fora. Na verdade, esqueci que estava dentro.

O tempo a todos conserta.
(Espero que sim!)

domingo, 25 de janeiro de 2009


Vamos voar para bem longe. Longe da fumaça e da guerra deve existir um lugar melhor. Talvez lá seja mesmo um paraíso onde poderemos amar um ao outro. Não sei. Será que nós tinhamos chance? Mesmo que por um instante. Será que ela existiu? Lulu e Yali enviarão uma foto nossa ao jornal. Talvez aquela da rave, em que estavamos felizes. Talvez as pessoas vejam como nós estávamos em harmonia e entendam de uma vez como estas guerras são estupidas. Não, elas jamais entenderão.


sexta-feira, 14 de novembro de 2008


Bom dia Querido Amigo!
 
Primeiramente peço desculpas pela demora quase que secular em te responder. Eu comecei a escrever, salvei na pasta de rascunhos e achei que tinha enviado.
Nem me fale em rotina do dia-a-dia. Eu vivo isso.
Parece que foi ontem que almoçamos no Felini. Foi muito bom. Espero você aqui!
 
E eu me emocionei muito lendo o se e-mail e me emocionei novamente relendo agora...(eu achei que já tinha te enviado). O importante é você ter a consciência das coisas em sua vida e ter a sabedoria. Ela brotou de você de uma forma espetacular. Na Gakkai temos verdadeiros amigos. Todos com defeitos e qualidades, mas com eles são diferentes porque eles conhecem a Lei!

Sabendo da sua história de vida, da sua pessoa, das mudanças, posso te dizer de coração que você é um dos meus maiores orgulhos como amigo. É como se você renacesse das cinzas, se tornasse uma flor de lótus no pântano. Você ganhou sabedoria e tirou de dentro de ti uma paz gigantesca.
 
Olha eu passei uns bocados, sabe?
 Todos nós temos um discurso fácil ao afirmar que é imprescindível haver respeito e consideração com todas as pessoas com quem convivemos, quer no plano pessoal ou profissional. Pensar e falar são coisas extremamente fáceis.
O grande desafio está no agir, no fazer, no praticar aquilo que se diz ou pensa como sendo o certo, o correto nas relações entre as pessoas. Não valemos pelo que pensamos, mas sim pelo que realmente fazemos.
A maioria das pessoas deixa de se manifestar sobre como percebe e sente o comportamento das pessoas com quem convivem. A racionalização por não dizer nada é baseada no argumento de que, 'afinal, ninguém é perfeito' e vai acumulando insatisfações, com reflexos inevitáveis nas relações.
O pior tipo de relacionamento que podemos praticar com as pessoas com quem trabalhamos e vivemos é o do silêncio. O silêncio fala por si só. Todas as coisas que prestamos atenção tendem a crescer. Se olharmos, tão somente os aspectos negativos de alguém, esses tendem a crescer aos nossos olhos.O inverso também parece ser fatal. Se dirigirmos nossas observações a respeito das questões positivas que todos nós temos, existe a grande possibilidade delas também crescerem. Os maus atacam os outros em vez de encararem suas próprias falhas. Em vez de destruir as outras pessoas, eles deveriam destruir o mal dentro de sua própria vida. Essas pessoas são caracterizadas por sua absoluta recusa em, tolerar seus próprios erros e defeitos...
 
Beijocas enormes e fique bem,
Sua amiga que te ama.
  

domingo, 2 de novembro de 2008

permitir-se

liberdade

Às vezes a gente tem de se permitir sofrer - ou permitir que o outro sofra.
Todos nós sofremos quando alguém sofre e não podemos ajudar. Em certos momentos é melhor não tentar interferir, apenas oferecer nossa presença e atender se formos chamados. Que o outro saiba que estamos ali.
Mas não se permitir o prazo normal de dor é irreal.
Quando é hora de sofrer não teremos de pedir licença para sentir - esgotar - a dor.
A dor incomoda.
A quietude perturba.
O recolhimento intriga e incomoda os demais: "Ele deve estar doente, deve estar mal, vai ver é depressão, quem sabe um drinkizinho, uma nova amante.." Para não se inquietarem, para não ter de "parar para pensar".
O luto é necessário - ou a dor ficará soterrada debaixo da futilidade, sua raiz enterrando-se ainda mais fundo, seu fogo queimando nossas últimas reservas de vitalidade, e fechando todas as saídas.
Não vou me alegrar jantando fora, quando perdi meu amor, perdi minha saúde e perdi meu amigo. Perdi minha ilusão.
Alguma coisa positiva vai nos fazer dar o primeiro passo para fora da UTI emocional (as vezes física) em que a perda nos colocou. Um dia espiamos para o corredor, passamos da UTI para um quarto, finalmente olhamos a rua e estamos de novo em movimento.
Ainda estamos vivos, ainda em processo, até morrer.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

amor primeiro


Era um homem, um homem comum, que um comum destino parecia controlar inteiramente. Um animal doméstico bem treinado.
Um dia sentiu um incômodo nos dois ombros, distensão muscular, má posição no trabalho.. Foi piorando e resolveu olhar-se no espelho, de lado, inteiro e nu depois do banho: não havia dúvida, duas saliências oblíquas apareciam em sua pele abaixo dos ombros. Teve medo mas decidiu não comentar nada com ninguém, e como não transava freqüentemente com a mulher, conseguiu esconder tudo quase um mês.
Fez como via fazer sua mulher: pegou de cima da pia um espelho redondo no qual ela ajeitava o cabelo, e passou a analisar todo dia aquele fenômeno que em vez de o assustar agora o intrigava. Curioso mas sem sofrer - pois não doía -, foi observando aquilo crescer.
E pensava:
Nem adianta ir ao médico, porque se for um tumor (ou dois) tão grande, não tem mais remédio, é melhor morrer inteiro do que cortado.
Certa vez, quando se masturbava no banheiro, na hora do prazer sentiu que elas enfim se lançavam de suas costas, e viu-se enfeitado com elas, desdobradas como as asas de um cisne que apenas tivesse dormido e, acordando, se espojasse sobre ás aguas.
Ficou ali, nu diante do espelho, estarrecido.
Agora ele não era apenas um homem comum com contas a pagar, emprego a cumprir, família a sustentar, filhos a levar para o parque, horários a cumprir: era um homem com um encantamento.
Eram umas asas muito práticas aquelas, porque desde que usasse camisa um pouco larga acomodavam-se maravilhosamente debaixo das roupas. Em certas noites, quando todos dormiam, ele saía para o terraço, tirava a roupa e varava os ares.
Sua mulher notou alguma coisa diferente no corpo do seu marido. Estava ficando curvado, tantas horas na mesa do trabalho. Nada mais que isso. Embora a mãe lhe tivesse dito que "com homem é melhor confiar desconfiando", daquele seu homem pacato ela jamais imaginaria nada muito singular.
- Você vai  acabar corcunda deste jeito, aprume-se - ela dizia em seu tom de desaprovação conjugal.
As coisas se complicaram quando, já habituado à sua nova condição, o homem-anjo olhou em torno e, sendo ainda apenas um homem com asas, sentiu-se muito só. E começou a pensar nisso. E olhou em torno e se apaixonou.
Na primeira noite com sua amante, esqueceu o problema, tirou a roupa toda, e quando ela começava a apalpar-lhe as costas o par de asas se abriu, arqueou-se unindo as pontas bem no alto por cima dele, na hora do supremo prazer.
Mas essa mulher/amante não se assustou, não se afastou. Apertou-se mais a ele, e dizia: vem comigo, vem comigo, vem comigo....
E abriu suas asas também.

(Histórias do tempo, 2000)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

nova estação

todo dia na vila

É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espírito, ao final de sua jornada não agradecem por terem vivido, mas desculpam-se, por terem apenas passado pela vida.
 
E esta foi a essência da força daquela tarde de segunda.
Uma partida e um adeus impresso no espelho.
Um itinerário que me trouxe pro agora, presente momento.
Nada é igual.
Nem o rio, nem o garoto que retorna ao rio.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

itinerário




O tempo, além de ser o meu tempo, para realizar qualquer coisa positiva e plausível - ainda que seja mudar de lugar a cadeira (até de rodas) e ver melhor a chuva que cai.
Se sonharmos apenas com a viagem a lua, cuidar das rosas pode parecer tedioso demais, e não cultivaremos coisa alguma.
A vida é sempre nossa vida, aos 12 anos, aos 30 anos, aos 70. Dela podemos fazer alguma coisa mesmo quando nos dizem que não. Dentro dos limites, do possível, do sensato, podemos. 
Só seremos nada se acharmos que merecemos menos de tudo que ainda é possível obter.

sábado, 11 de outubro de 2008

perder sem se perder



A melhor parceria deve ser aquela que aceita um o outro sem ter de se submeter a qualquer coisa pelo outro, em que um aprecia e admira o outro, mas tem por ele ternura e cuidados. Sobretudo aquela em que um parceiro não investe no outro todos os seus projetos, à primeira decepção passando de amor a rancor.
Se o outro serve de cabide para nossos sonhos mais extravagantes de perfeição, o primeiro vento contrário derruba o pobre ídolo que não tem culpa de nada.
No casamento saudável há um propósito geral: quero passar com você os melhores dias de minha vida, construir com você uma relação gostosa, importante e definitiva.
É importante não correr para os braços do outro fugindo da chatice da família, da mesmice da solidão, do tédio. É essencial não se lançar no pescoço do outro caindo na armadilha do "enfim, nunca mais só", porque numa união com expectativas exageradas decreta-se o começo do exílio.
Amor bom, além do mais, tem que suportar e superar a convivência diária. A conta a pagar, o emprego sem graça e o chefe grosseiro. Quando cai aquela última gota, a gente explode. Quer matar e morrer, e nos damos conta: nada mais em nossa relação é como era no começo. Não é nem de longe como planejavamos que fosse.

Na verdade, na parceria amorosa, como em tudo o mais, recomeçamos tudo todos os dias. Então podemos começar diferentes também aqui e agora.
Precisamos de criatividade em um relacionamento amoroso. O problema é que quando se fala em criatividade se pensa em primeiro em inovações no sexo. Transar bem é resultado, não meio.
Passada a primeira fase de paixão (ela passa, mas que não significa tédio nem fim de tesão), a gente começa a amar o outro de outro jeito. Ou a amar melhor, ou aí é que a gente começa a amar de verdade, a querer bem, a apreciar, a respeitar, valorizar, a mimar, a sentir falta, a conceder espaço, a querer que o outro cresca e não fique grudado na gente.
Se você ama alguém, deixe-o livre.
Laços podem ser reconstruídos, remendados ou cortados. O corte se faz com mais ou menos generosidade, carinho ou hostilidade e raiva - sempre com dor. Porém nenhuma união deveria ser a sentença definitiva de aniquilamento mútuo dentro de uma jaula.

tempo tempo tempo



No amor pensamos viver o mito da fusão com o outro, Queremos perder a identidade nas mãos daquele que no momento é tudo para nós.
A paixão inicial quer ver, mostrar. É compulsão de nos abrirmos com o outro e mergulharmos nele, revelando os menores detalhes de nossa alma, incansáveis relatos do passado, trocas que parecem levar à sonhada união total.
Porém uma ligação amorosa é uma longa elaboração: enfrenta toda uma série de transformações de parte a parte. Mudamos e os parceiros não mudam necessariamente no mesmo ritmo, com a mesma intensidade ou no mesmo sentido.
O instinto e o afeto é que fazem com que os bons casais, usem dessas fases de crise para se renovar e crescer, se possível juntos. Desde que o instinto seja saudável, o afeto bom, a personalidade aberta.
Pode ter reveses financeiros, pode ter fracassos profissionais. Pode evoluir com o tempo, ou ficar atrás em relação ao outro.
Instala-se entre ambos o jogo do poder em que o mais fraco tiraniza aquele que se submeteu mais, abdicou de mais coisas.
Aquele que está em vantagem, pode ceder a chantagens, podar suas asas e truncar seu destino para não humilhar o parceiro.
Mas frequentemente, aquele que poderia dar o passo decisivo e consertar sua vida, mesmo dentro da relação, não se permite isso. A culpa não deixa. O medo de perder o parceiro não permite. O receio da solidão, pior ainda.
Tudo fica como está: por baixo das aparências corre o rio turvo do lento e suicídio a dois, físico ou moral. É a morte das alegrias e ternura, um acordo fatal na qual a esperança fica revogada. A culpa, é como uma mala cheia de tijolos, peso inútil que carregamos de um lado para o outro sem objetivo algum. Haveria só uma solução; joga-la fora inteira ou ao menos parte dela.

escolhas



Para amar preciso primeiro me amar. Vou procurar um amor bom pra mim - na qual me reconheço e me reencontro, me refaço e me amplio, me exploro, me descubro - se minha imagem interior me levar a isso.
O amor mais do que tudo revela: manifesta nossas tendências, o que preferimos e escolhemos para nós. Quero, mereço ser feliz e fazer feliz ou preciso me punir e castigar o outro?
"Escolha" amorosa pode parecer contradição. É em parte consciente, segundo nossos agrados e necessidades. Mas é bastante inconsciente, brotas dos impulsos mais primários, daquele nosso EU dissimulado por trás de muitas máscaras.
Escolho conforme minha saúde mental e emocional ou minha doença, meus desejos mais obscuros, meus movimentos inconscientes em direção a destruição e afirmação.
Nosso lado mais oculto sente, fareja: aqui devo investir minha emoção, aqui conseguirei me doar, aqui há alguém com quem posso pensar ou construir um relacionamento.

resquícios




O amor primeiro, aquele entre pai e filhos, vai determinar nossa expectativa de todos os amores que teremos. Nossa vivência inicial vai marcar muitas de nossas existências futuras.
Todo amor tem ou é crise, todo amor exige paciência, bom-humor, tolerância e firmeza em doses sempre incertas. Não há receita nem escolas para ensinar a amar. Amar é impor e aceitar limites.

"Sempre senti que minha mãe não sabia o que fazer comigo."
"Nunca entendi o que realmente meu pai queria de mim, eu sempre um estranho."

Esse grupo familiar que não escolhemos e nos define tanto pode ser um ponto confiável de onde partimos e ao qual podemos retornar, ainda que em pensamento. Aquele lugar.. que será sempre meu lugar, mesmo que eu já não viva mais nele.
Não podemos alterar o passado. Mas podemos alterar nossa postura em relação a tudo isso.
Posso me libertar. Posso me reprogramar para discernir neste momento, o que é melhor para mim.

Atrás e a frente de cada casal humano estende-se uma longa cadeia de erros e acertos geradores de humanidade.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

meu encontro com lya




Tudo se complica porque trazemos nosso equipamento psíquico. Nascemos do jeito que somos: algo em nós é imutável, nossa essência são paredes difíceis de escalar, fortes demais para admitir aberturas. Essa batalha será a de toda nossa existência.
As ferramentas para executarmos a tarefa de viver podem ser precárias. Isso quer dizer: algumas pessoas são mais frágeis que outras. 
O meu diminuto jardim me ensina diariamente que há plantas que nascem mais fortes, outras malformadas, algumas são atingidas por doença ou fatalidade em plena juventude, outras na velhice retorcida ainda conseguem dar flor.
Essa mesma condição é a nossa, com uma diferença dramática: podemos pensar.
Por isso, mais uma vez, somos responsáveis, também por nós. Somos no mínimo co-responsáveis pelo que fazemos com a nossa bagagem que nos deram para esse trajeto entre nascer e morrer.
Carregamos muito peso inútil. Largamos no caminho objetos que poderiam ser preciosos e recolhemos inutilidades. Corremos sem parar até aquele fim temido, raramente sentamos para olhar em torno, avaliar o caminho, e modificar ou manter nosso projeto pessoal.
Ou nem tinhamos desejos pessoais. Nos diluímos nas águas da sorte ou da vontade alheia. Ficamos tênues demais para reagir. Somos os que se encolhem nos cantos ou sentam na berada da poltrona dos salões da vida.
Cada desperdício de um destino, um indivíduo que se proíbe de se desenvolver naturalmente conforme suas capacidades ou até além delas, me parece tão tragico e tão importante quanto uma guerra. 
Não deviamos escrever artigos e fazer passeatas apenas contra a guerra, a violencia, a corrupção e a pobreza, mas proclamar a importância do que semearam em nós, individuos. De como o devemos cuidar no tempo que nos foi dado para essa jardinagem singular.

o centro

25

Centro é o que ocupa a prioridade em nossas vidas e em nosso cotidiano, aquilo para o qual convergem o olhar, a emoção e a vontade. Centro é também um ponto equidistante, mas relativo: o centro das atenções, centros e periferias, o centro do coração, o foco central,  os novos centros do mundo, centros de comunicação e inovação, a viagem ao centro da Terra são idéias e conexões criadas a partir da palavra.
Centro pode sugerir coesão e convergência. Egocentrismo e periferia. Centro é o lugar de onde vêem a luz e a informação, é onde nascem as cidades. O local em que nos reunimos ou que foi esquecido. Centro é o nosso umbigo e o alheio.
Um centro se desloca de quando em quando. Para a criança o centro é sua mãe, depois seu entorno, com o crescimento a vida vai se ampliando e o centro descentra-se. 
Ao entrar no centro, o que estava fora ganha uma nova forma. E se transforma sob o olhar dos que observam e dos que constroem.