domingo, 2 de novembro de 2008

permitir-se

liberdade

Às vezes a gente tem de se permitir sofrer - ou permitir que o outro sofra.
Todos nós sofremos quando alguém sofre e não podemos ajudar. Em certos momentos é melhor não tentar interferir, apenas oferecer nossa presença e atender se formos chamados. Que o outro saiba que estamos ali.
Mas não se permitir o prazo normal de dor é irreal.
Quando é hora de sofrer não teremos de pedir licença para sentir - esgotar - a dor.
A dor incomoda.
A quietude perturba.
O recolhimento intriga e incomoda os demais: "Ele deve estar doente, deve estar mal, vai ver é depressão, quem sabe um drinkizinho, uma nova amante.." Para não se inquietarem, para não ter de "parar para pensar".
O luto é necessário - ou a dor ficará soterrada debaixo da futilidade, sua raiz enterrando-se ainda mais fundo, seu fogo queimando nossas últimas reservas de vitalidade, e fechando todas as saídas.
Não vou me alegrar jantando fora, quando perdi meu amor, perdi minha saúde e perdi meu amigo. Perdi minha ilusão.
Alguma coisa positiva vai nos fazer dar o primeiro passo para fora da UTI emocional (as vezes física) em que a perda nos colocou. Um dia espiamos para o corredor, passamos da UTI para um quarto, finalmente olhamos a rua e estamos de novo em movimento.
Ainda estamos vivos, ainda em processo, até morrer.

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