sábado, 11 de outubro de 2008

tempo tempo tempo



No amor pensamos viver o mito da fusão com o outro, Queremos perder a identidade nas mãos daquele que no momento é tudo para nós.
A paixão inicial quer ver, mostrar. É compulsão de nos abrirmos com o outro e mergulharmos nele, revelando os menores detalhes de nossa alma, incansáveis relatos do passado, trocas que parecem levar à sonhada união total.
Porém uma ligação amorosa é uma longa elaboração: enfrenta toda uma série de transformações de parte a parte. Mudamos e os parceiros não mudam necessariamente no mesmo ritmo, com a mesma intensidade ou no mesmo sentido.
O instinto e o afeto é que fazem com que os bons casais, usem dessas fases de crise para se renovar e crescer, se possível juntos. Desde que o instinto seja saudável, o afeto bom, a personalidade aberta.
Pode ter reveses financeiros, pode ter fracassos profissionais. Pode evoluir com o tempo, ou ficar atrás em relação ao outro.
Instala-se entre ambos o jogo do poder em que o mais fraco tiraniza aquele que se submeteu mais, abdicou de mais coisas.
Aquele que está em vantagem, pode ceder a chantagens, podar suas asas e truncar seu destino para não humilhar o parceiro.
Mas frequentemente, aquele que poderia dar o passo decisivo e consertar sua vida, mesmo dentro da relação, não se permite isso. A culpa não deixa. O medo de perder o parceiro não permite. O receio da solidão, pior ainda.
Tudo fica como está: por baixo das aparências corre o rio turvo do lento e suicídio a dois, físico ou moral. É a morte das alegrias e ternura, um acordo fatal na qual a esperança fica revogada. A culpa, é como uma mala cheia de tijolos, peso inútil que carregamos de um lado para o outro sem objetivo algum. Haveria só uma solução; joga-la fora inteira ou ao menos parte dela.

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